Restauração do Monumento Santa Cruz

18/12/2013 17:30

O Núcleo de Estudos Açorianos (NEA), da Secretaria de Cultura (SeCult) da UFSC, juntamente com o Museu Universitário, concluiu os trabalhos de revitalização do Monumento Santa Cruz, no campus de Florianópolis, bairro Trindade, em frente ao Museu Osvaldo Rodrigues Cabral (MArquE). A equipe, comandada pelo servidor Euclides Vargas, técnico em Restauração do Museu, finalizou os trabalhos no início deste mês. As Santas Cruzes com todos os seus variados elementos decorativos, são um dos marcos histórico-culturais mais antigos na Ilha de Santa Catarina.

É uma herança portuguesa (deixada na Ilha de Santa Catarina pelos açorianos que ocuparam este espaço no século XVIII), presente em todo o continente brasileiro, cuja memória nos remete ao Frei Henrique de Coimbra, que celebrou a 1ª Missa no Brasil aos pés de uma Santa Cruz, uma das primeiras providências tomadas pelos portugueses ao descobrirem o Brasil.
No Final da ultima década do século passado (1998) o pesquisador Gelci José Coelho idealizou o projeto de ter um marco destes no Campus Universitário e foi construída em frente ao Museu Osvaldo Rodrigues Cabral uma “Santa Cruz” que esta lá ate os dias atuais. Por ser um monumento em madeira já apresentava vários problemas que necessitavam de uma restauração. O Núcleo de Estudos Açorianos (SECULT) juntamente com o Museu Universitário (CFH) uniram esforços para fazer esta restauração. O Funcionário Euclides Vargas, técnico em Restauração do Museu Universitário, foi responsável pela mão obra especializada para fazer este trabalho de restauro.

HISTÓRICO

As Santas Cruzes. com todos os seus variados elementos decorativos, são um dos marcos histórico-culturais mais antigos na Ilha de Santa Catarina.

Esta herança portuguesa (açoriana) presente no litoral catarinense e em especial na ilha de Santa Catarina é resultado de uma pratica comum dos povoadores que vieram do arquipélago dos Açores. Ao chegar ao local que seriam assentados o primeiro passo era achar agua potável. Após assegurar a agua para sua sobrevivência, o segundo passo, era construir uma Santa Cruz, pois os colonos açorianos eram católicos fervorosos. O local onde a Cruz era colocada marcava o ponto onde seria erguida a capela e depois igreja e consequentemente ao seu redor a pequena vila.
No decorrer da década de 60, o artista e pesquisador de cultura popular, Franklin Joaquim Cascaes (1908 – 1983) teve a preocupação de documentar todas as Santas Cruzes existentes ao longo da Ilha de Santa Catarina. O precioso trabalho por ele desenvolvido nos permite hoje reencontrar esta antiga tradição que, segundo relatos históricos, era a primeira atitude dos colonizadores que pretendiam fundar uma nova comunidade.

Cascaes pôde naquela ocasião, documentar 36 cruzes, a maioria confeccionada em madeira, cujos símbolos decorativos variavam de uma para outra comunidade. O objetivo da construção destas Santas Cruzes, além da proteção divina por elas inspiradas, era a de consolidar a fundação de um novo povoado, de delimitar as irradiações de espaço físico da nova vila e de usá-la como altar para novenários e celebrações variadas. Além disso, comemora-se de 2 para 3 de maio a Festa de Santa Cruz, e no decorrer do ano celebravam outros festejos que duravam de 3 a 4 noites, quando as cruzes eram enfeitadas com bandeirolas.

Todas as comunidades do interior da Ilha de Santa Catarina possuíam pelo menos uma Santa Cruz, em cuja simbologia estava todos os elementos da Paixão e Morte de Cristo. Atualmente sabe-se que várias comunidades perderam este símbolo de identificação com sua cultura e o seu passado.

SIMBOLOGIA

Todos os elementos que decoram as Santas Cruzes têm sua simbologia relacionada com a Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

COROA DE ESPINHOS: Representando a coroa real e com ela Jesus Cristo foi coroado como sendo o rei dos judeus.

CORAÇÃO COM CHAMAS: Representando a fé.

O GALO: Simboliza a omissão a Cristo, quando São Pedro nega tê-lo conhecido.

MARTELO: Utilizado para cravar os pregos nas mãos e pés de Cristo.

CRAVOS (pregos): Usados para cravar as mãos e os pés de Cristo ao madeiro da cruz.

INRI: Iniciais escritas em uma tabuleta e colocada no alto da cruz significando “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”.

RESPLENDOR: Luz espiritual do Santo Cristo.

LANÇAS: Uma com a qual em sua ponta foi colocado fel oferecido à Cristo para que bebesse. Outra com lâmina afiada que transpassou o Sagrado Coração de Jesus Cristo, dando assim, o golpe de misericórdia.

ESCADA: Utilizada para descer o corpo de Cristo da cruz.

TORQUÊS: Utilizada para arrancar os cravos que prendiam as mãos e os pés de Jesus Cristo na cruz.

CANAS: Serviram como cetro real quando Jesus Cristo foi torturado e intitulado Rei dos Judeus.

CORNETA: Com ela o arauto anunciava a morte de um condenado, convocando a todos para assistirem o martírio.

CÁLICE: O santo cálice no qual foi recolhido o Sagrado Sangue de Jesus Cristo.

OSSOS HUMANOS: A lenda conta que quando Jesus Cristo agonizava na cruz no Monte Calvário, aconteceu uma grande tempestade. A erosão fez surgir alguns ossos humanos que foram considerados como sendo os ossos do bíblico Adão.

Pesquisa: Izabel Orofino e Gelci José Coelho.