Pesca da Tainha em Florianópolis: Um Patrimônio Cultural e Econômico

05/06/2024 09:59

A pesca da tainha (Mugil liza) é uma tradição secular em Florianópolis. Esta prática tradicional remonta aos tempos dos primeiros colonizadores açorianos que chegaram à ilha no século XVIII.

Segundo a pesquisa da Fundação Cultural de Bombinhas “a pesca da tainha é uma tradição de origem indígena “aprimorada” pelos primeiros açorianos que aportaram na costa catarinense. Quando os colonizadores chegaram, o povo natural dessa terra já retirava os peixes do mar e usavam “canoas de um pau”. A troca de conhecimento levou a melhorias, especialmente na canoa, já que uma das habilidades dos açorianos era a construção naval. Mas, a sabedoria dos indígenas foi além do ensinamento sobre a pesca. Conforme a pesquisa, a tradição na hora de comer a tainha também foi assimilada: com farinha de mandioca, fazendo o chamado pirão com peixe”. Os açorianos trouxeram consigo técnicas de pesca artesanal, que foram adaptadas ao ambiente local. Ao longo dos anos, essas técnicas foram sendo aperfeiçoadas e transmitidas de geração em geração, tornando-se parte fundamental da cultura e da identidade dos pescadores da região.

A pesca da tainha é uma das atividades econômicas mais importantes para as comunidades pesqueiras de Florianópolis. A temporada da tainha, que geralmente ocorre entre os meses de maio e julho, movimenta a economia local, gerando emprego e renda para milhares de pessoas. Durante este período, pescadores artesanais e industriais trabalham intensamente para capturar a tainha, que é muito apreciada tanto no mercado interno quanto no externo.

Além da venda direta do peixe, a temporada de pesca também impulsiona outros setores econômicos, como o turismo, a gastronomia e o comércio. Restaurantes especializados oferecem pratos típicos à base de tainha, atraindo turistas que desejam experimentar a culinária local. Isso contribui significativamente para a economia de Florianópolis, conhecida por suas belas praias e, também, pela forte tradição pesqueira.

Uma das técnicas mais tradicionais é a pesca de arrastão, onde redes são lançadas ao mar e puxadas por grupos de pescadores. Este método é conhecido pela sua colaboração comunitária, com várias famílias participando do processo. Os pescadores, com suas embarcações coloridas e habilidades ancestrais, saem ao mar com a esperança de uma pesca abundante. É um espetáculo de determinação e conexão com mar, onde a sabedoria transmitida de geração em geração se une à natureza imprevisível do oceano. A pesca da tainha em Florianópolis é regulada por órgãos ambientais que monitoram a quantidade de peixes capturados, garantindo a sustentabilidade da espécie. Há períodos de defeso, quando a pesca é proibida para permitir a reprodução dos peixes.

Durante a temporada, diversas festividades são realizadas em homenagem à pesca da tainha. Uma das mais conhecidas é a Festa da Tainha, que celebra a cultura e a gastronomia locais, com pratos típicos, apresentações culturais e muita música.

A tainha é um peixe versátil na culinária. Pode ser preparada de várias maneiras, incluindo assada, grelhada, frita e recheada. Uma das receitas mais tradicionais é a tainha assada na brasa, recheada com farofa de camarão, um prato que simboliza a riqueza e a diversidade da culinária catarinense.

A pesca da tainha em Florianópolis é muito mais do que uma atividade econômica; é uma manifestação cultural que une gerações e celebra a conexão íntima entre a comunidade e o mar. Inclusive, há um Projeto de Lei de n° 18.620, aprovado pela Câmara Municipal de Vereadores de Florianópolis, que aguarda sanção do Prefeito, que institui a tainha como peixe-símbolo de Florianópolis. O animal será incluído na Lei n°. 10.717/20, que determina outros símbolos do Município, como a Laelia purpurata (flor-símbolo), rã-manezinha (anfíbio-símbolo) e também o guarapuvu (árvore-símbolo).

Além da festividade, a temporada da pesca da tainha é também um momento de reflexão sobre a importância da conservação marinha. Visando, não somente as populações de tainha, mas, todo o ecossistema marinho.  É um exemplo de como tradição e modernidade podem coexistir, preservando o patrimônio cultural enquanto se promove o desenvolvimento econômico sustentável.

 

 

Este texto foi possível através da colaboração de Carla Moreira, bolsista de extensão do NEA, aluna da graduação em Filosofia da UFSC.

 

Referências:

https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/mpa/pesca/tainha/2020/PortariaSGMMAn242018ordenamentopesqueirotainha.pdf

https://www.cmf.sc.gov.br/imprensa/noticias/0/4/2021/5507

https://luxuryhomefloripa.com.br/pesca-da-tainha-tradicao-cultura-e-economia-local/https://praias-sc.com/pesca-da-tainha-santa-catarina