A Festa do Divino Espírito Santo: Contexto histórico

23/05/2023 15:01

A Festa do Divino Espírito Santo, trazida pelos açorianos em meados do Séc. XVIII, é uma importante festividade popular de Santa Catarina. 

Segundo Sarita Santos, a festa tem origem na promessa feita pela rainha Isabel de Aragão ao Divino Espírito Santo, clamando pela paz e reconciliação entre o rei D. Diniz e seu filho Afonso. E o pedido foi aceito pelo Espírito Santo! Então foi feita a festa, que já se espalhara pela Europa. A primeira celebração foi formada pelo rei e a rainha, que ofereceram uma coroa à igreja, bem como seus soldados, formando um cortejo. Todas as pessoas queriam ver e reverenciar a coroa oferecida pela rainha. As doações dos nobres portugueses custearam comes e bebes aos camponeses, e aos mais necessitados. Assim, a festa passa a ser realizada anualmente  em diversas regiões de Portugal. Como o rei e a rainha não poderiam estar em todas as festas, passam a ser representados, simbolicamente, por um casal festeiro.

Imagem retrata a pomba branca e a bandeira da Festa do Divino Espírito Santo realizada no Ribeirão da Ilha, no ano de 1981. Fonte: Acervo Bibliográfico do NEA.

A festa é levada para os Açores já com os primeiros portugueses que lá chegaram e se torna a mais tradicional festividade celebrada por aquele povo. Lá, após um forte terremoto em 1522, os “impérios” são incorporados à tradição. Esses impérios eram pequenas capelas, de cores vivas, onde eram colocadas as coroas, e os utensílios usados na festa. Neste mesmo período, há também a formação das Irmandades do Espírito Santo, que se encarregam de realizar a festa. 

A festa e outras diversas manifestações culturais dos açorianos chegam a Santa Catarina a partir de 1748, com a articulação do engenheiro militar Brigadeiro José da Silva Paes, o primeiro governador da Capitania da Ilha de Santa Catarina. O arquipélago açoriano, à época, estava enfrentando dificuldades de produção de alimentos, e com uma população bastante empobrecida. A região de Santa Catarina, por outro lado, tinha uma escassa população e um vasto território a ser explorado e povoado. Silva Paes, assim, sugere a vinda de casais açorianos à capitania que dirigia a fim de iniciar um povoamento mais abundante destas terras.
A vinda dos casais açorianos ao litoral catarinense gerou na região um legado que se estende até os dias de hoje, em uma memória histórico-cultural que se manifesta na vida cotidiana de quem aqui vive. A Festa do Divino Espírito faz parte deste legado, se constituindo como uma das maiores expressões da tradição açoriana. Assim, é a maior festa religiosa de vários municípios litorâneos e quatorze comunidades em Florianópolis. 

As festas são realizadas nos meses de maio a setembro, seguindo o calendário litúrgico católico. Cada comunidade pode ter características próprias no festejo, mas que não alteram a essência do culto ao Espírito Santo. As festas costumam seguir o ciclo do Divino Espírito Santo, que é formado por quatro etapas: os peditórios, as novenas, as cantorias e a festa em si. Os grandes símbolos que formam a festa são a presença da bandeira do Divino, o casal festeiro (imperador e imperatriz), o cortejo imperial, a coroação, pagamento de promessas e bandas.

REFERÊNCIA

SANTOS, Sarita. A Folia do Divino: Contada & Cantada por Picucho Santos. Balneário Piçarras: Oficina Birô de Criação, 2022.